
(Por Marinaldo M. Guedes)
No final deste mês de agosto vou estar à frente de um grupo de colaboradores da área de saúde, funcionários da Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas, que completa 59 anos. A diretoria decidiu, junto aos demais colegas de trabalho, que comemorariam com uma palestra sobre qualidade no atendimento público, envolvendo inovações. E o coaching é a bola da vez.
O que faz uma instituição de quase 60 anos buscar o coaching como referência de desenvolvimento de pessoas?
Pensar na qualidade e excelência no atendimento no serviço público é buscar atualização em questões fundamentais que estão sendo discutidas na sociedade brasileira e em outras partes do mundo. É repensar os esforços e a eficiência que essas mudanças vão proporcionar à população. É interagir com a ideia de fazer mais com menos. E descobrimos com isso que não bastam os investimentos financeiros, é preciso fortalecer a consciência dos operadores da coisa pública. A figura do Estado precisa ter um norte claro e respeitado por todas as instituições cooperantes. Funcionários, colaboradores e toda a massa crítica deve conhecer os valores estabelecidos no maior propósito, que é a missão do Estado. Quem opera no atendimento no setor público precisa reconhecer urgentemente sua verdadeira importância em toda essa engrenagem social. Com isso, a aposentadoria será apenas uma relação de conquistas ao longo do processo e não o objetivo-fim, um troféu para quem passou a vida lutando e sofrendo.
Somos mais que isso. Queremos ser mais que isso. E esse reconhecimento transborda em uma sequência inesgotável de recursos que vão intensificar essa relação dos talentos, processos e marcas para servir ao público, sedento de melhorias.
Em dois anos, já alcançamos algo em torno de mil servidores públicos, de forma direta e outros 500 em formato multimídia nos municípios do Amazonas. Muitas dessas pessoas jamais ouviram a palavra “coaching”. Foi só começar a praticar as técnicas que um mundo novo se abriu. Novos comportamentos surgiram para uma nova perspectiva de vida possível.
O Brasil oferece todos os anos milhares de vagas de empregos no setor público, municipais, estaduais e federais. Alguns por talento, porém, a maioria busca segurança financeira. Muitos vão ter uma carreira sólida na mesma instituição, outros vão galgar novos espaços por novos concursos e novas instituições até encontrar uma motivação que o defina como uma pessoa realizada.

No serviço público há grupos dos mais diversos. Os que estão dispostos a fazer o melhor pelo cliente/contribuinte, os que estão para cumprir uma jornada que vai gerar o salário do mês, e os que iniciam no serviço com a intenção de obter uma aposentadoria sem grandes tropeços. Claro que podemos obter outras classes fora essas. Mas a gente encerra aqui para explicar o que Sérgio Cortella define como motivações tripallium ou poieses. A primeira se refere a um instrumento de tortura muito usado no passado para incentivar os trabalhadores e escravos a cumprirem jornadas pesadas. A palavra trabalho vem daí, de tripallium. É como encaramos o nosso dia-a-dia, aquilo que fatiga ou causa dor. Uma carga dura de serviço e sofrimento em troca de um punhado de moedas.
Por outro lado, muitos conseguem alcançar o ápice de sua carreira, uma mistura de energia liberada, talento explorado e a sensação de que cada dia é uma nova oportunidade de mudar o mundo a sua volta, construir uma sociedade mais justa. Isto é poieses, o resultado do que você estará construindo a cada momento, um legado da sua existência, a marca da sua presença seja em qual ambiente for.
Mesmo em ambientes dos mais motivadores do serviço público, você pode encontrar essas duas vertentes claramente manifestadas: motivados e desmotivados. O que tem de diferente entre essas pessoas? Aspirações mal resolvidas, valores alimentados ou crenças que impedem essa exploração de talentos e valores.
São pessoas. Estão no serviço público, mas poderiam estar em qualquer empresa, da mesma forma que você encontra no setor privado. A diferença é que o serviço público é bem mais tolerante. O bom é que tem gente incomodada com tanta tolerância. A população não mais tolera a falta de humor, a antipatia ou a apatia de quem está no posto de cuidador dos seus interesses públicos.